Tavares Abreu & Oliveira Advogados

Contas descontadas no salário: até onde isso é permitido por lei?

Muitos trabalhadores se deparam com a realidade de ter contas descontadas no salário, ou seja, parcelas de dívidas retiradas diretamente do contracheque. Embora essa prática seja legal e comum em situações de empréstimos consignados, existem limites e regras estabelecidas para proteger a renda do trabalhador, assegurando que ele mantenha o mínimo necessário para suas despesas básicas.

Neste artigo, vamos explicar como funcionam os descontos, qual o limite legal para as contas no contracheque e de que forma a Lei do Superendividamento pode ajudar quem está em situação de endividamento excessivo.

Limite legal para descontos no contracheque

De acordo com a legislação brasileira, o valor total de contas no contracheque referentes a empréstimos consignados não pode ultrapassar 30% do salário líquido do trabalhador. Essa limitação existe para preservar parte da renda, garantindo que o funcionário consiga manter seus custos essenciais, como moradia, alimentação e transporte.

Lei do Superendividamento

A Lei nº 14.181/2021, conhecida como Lei do Superendividamento, foi criada para oferecer maior proteção aos consumidores e prevenir situações em que dívidas comprometam quase toda a renda mensal.

Ela trouxe três pontos principais:

  • Proteção do consumidor endividado: permitindo renegociação justa de dívidas;
  • Educação financeira: incentivando práticas de consumo responsáveis;
  • Facilidade na renegociação: criando meios de reorganizar débitos sem prejudicar a subsistência.

Quanto pode ser descontado no salário?

O limite é de 30% do salário líquido, incluindo todos os contratos de empréstimo consignado e outras obrigações financeiras debitadas automaticamente. O objetivo é evitar que o trabalhador tenha contas descontadas no salário em excesso, comprometendo sua sobrevivência.

Situações específicas a considerar

  1. Empréstimos consignados
    Essa modalidade é bastante comum porque o pagamento é garantido pelo desconto automático. Contudo, mesmo sendo atrativa por oferecer juros menores, deve respeitar o limite máximo de 30%.
  2. Descontos voluntários
    Além dos consignados, o trabalhador pode autorizar outros descontos no contracheque, como seguros, planos de saúde ou mensalidades associativas. Somados, todos devem obedecer ao limite legal.
  3. Superendividamento
    Se as contas no contracheque ultrapassarem o limite permitido e o trabalhador não conseguir arcar com o restante das despesas, a Lei do Superendividamento pode ser acionada para renegociar os débitos em condições mais justas.

O que fazer diante de descontos excessivos

Caso perceba que as contas descontadas no salário superam o percentual de 30%, é fundamental buscar orientação de um advogado especializado em direito bancário. Esse profissional pode:

  • analisar a legalidade dos descontos;
  • negociar diretamente com credores para reduzir ou ajustar valores;
  • propor ações judiciais para limitar os descontos e proteger a renda do trabalhador.